Biblioterapia pode ser mais eficaz que antidepressivo
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Livros de autoajuda na área médica vendem horrores por uma razão muito
simples: eles funcionam.
Área da saúde engorda filão da autoajuda com receitas e
Num trabalho publicado em 2004 no periódico "Psychological Medicine", Peter
den Boer e seus colegas da Universidade de Gronigen, na Holanda, compararam
vários estudos que avaliaram a eficácia de livros de autoajuda
(biblioterapia) em casos clínicos de ansiedade e depressão.
Concluíram que a biblioterapia é significativamente mais eficaz do que
placebos ou inclusão em lista de espera para terapia, e praticamente tão
eficaz quanto tratamentos curtos ministrados por um profissional. Ainda mais
interessante, ela se mostrou medianamente mais eficaz do que o uso de
antidepressivos.
Esses resultados estão em linha com o que foi apurado em outras metanálises
feitas principalmente nos anos 90, e também com as conclusões de uma
força-tarefa que a Associação Psicológica Americana (APA) montou em fins dos
anos 80.
Antes, porém, de trocar seu psiquiatra (R$ 400 a sessão) e seu Prozac (R$
145 a caixa com 28 cápsulas) por um livro (R$ 19,90 o exemplar de 'Como
Curar a Depressão', Ed. Sextante), convém fazer algumas ponderações sobre
esses achados.
Parte do efeito positivo da biblioterapia pode ser atribuído a um viés de
seleção. Deprimidos que buscam ativamente uma mudança de comportamento -ou
seja, aqueles que compram os livros- são melhores candidatos à cura do que
os pacientes que sucumbiram à apatia.
Outro problema é que os estudos de eficácia normalmente avaliam obras de boa
qualidade, escritas por profissionais gabaritados. Essa, evidentemente, não
é a regra num mercado que lança milhares de títulos por ano.
E, como os remédios, livros errados envolvem alguns riscos. Num trabalho
publicado em 2008 em 'Professional Psychology', Richard Redding e colegas
avaliaram 50 obras de alta vendagem nos EUA relativas a transtornos de
ansiedade, depressão e trauma.
Como era de esperar, a qualidade e os problemas variam muito. Há desde
aqueles livros que apenas esquecem de avisar que o tratamento pode falhar
(50% dos títulos) até os que dão conselhos capazes de provocar efeitos
adversos (18%).
A boa notícia é que, prestando atenção a alguns poucos itens, como se o
autor é um profissional de saúde mental e se tem títulos acadêmicos, é
possível fugir das piores arapucas. Em princípio, essa regra deve valer
também para o Brasil.
Ressalvas à parte, a literatura médica de autoajuda é um fenômeno que
deveria ser olhado com mais carinho por profissionais e autoridades. Ela
tende a funcionar ao menos em alguns casos, permite atingir grandes
populações, e apresenta a melhor relação custo-benefício.
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