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domingo, 16 de outubro de 2011

Atividades de Incentivo à Leitura em Bibliotecas Escolares

Atividades  de Incentivo à Leitura em Bibliotecas Escolares

http://www.ced.ufsc.br/~ursula/papers/leitura.html


Universidade Federal de Santa Catarina/Departamento de Biblioteconomia e Documentação

Campus Universitário - Florianópolis - SC E-mail: araci@ced.ufsc.br


Universidade Federal de Santa Catarina/Departamento de Biblioteconomia e Documentação

Campus Universitário - Florianópolis - SC E-mail: ursula@ced.ufsc.br

Resumo

Relata o projeto desenvolvido em 3 bibliotecas de escolas de ensino de 1º grau de Florianópolis. Objetivo centrado em desenvolver atividades de incentivo à leitura de forma integrada ao processo de ensino-aprendizagem. A revisão de literatura concentra-se sobre atividades de incentivo a leitura em bibliotecas escolares. Apresenta as atividades desenvolvidas com as crianças e professores das escolas. Os resultados mostram mudanças do corpo docente referente aos serviços prestados pela biblioteca e reconhecem a importância da biblioteca no incentivo da leitura.

Palavras-Chave: Biblioteca escolar. Hábito de leitura.

Abstract

This papers presents the results about the project incentive reading at schools libraries in 3 public schools at Florianópolis. The objective is developing reading habits for children in the fundamentals years, integrating the learnig process. The literature review is about incentive reading habits and school libraries. Shows some activities with childrens and teachers at the school library. Some conclusions demonstrate fundamental changeover about the teachers views and the importance of library for reading activities.

Key-words: School libraries. Reading habit.

1 Introdução

As atividades que estimulam o hábito da leitura, o conhecimento dos diferentes tipos de fontes informacionais (livros, revistas, dicionários, entre outras) e a utilização metódica para obtenção de material bibliográfico são fatores que influenciam o aprendizado nos seus diversos momentos da vida.
Os serviços bibliotecários de incentivo à leitura para alunos de 1ª a 4ª séries, integrados ao processo de ensino aprendizagem, favorecem o desenvolvimento e consolidação do hábito de leitura nas crianças.
Pelo fato, das bibliotecas escolares existentes em escolas municipais e estaduais apresentarem dificuldades para a realização de atividades pedagógicas no processo de promoção da leitura, verificou-se a necessidade de criar um projeto que tornasse viável o planejamento e execução de atividades de incentivo a leitura junto aos alunos de 1ª a 4ª séries, de forma integrada ao processo de ensino-aprendizagem.
Em 1995, teve início o projeto intitulado "Atividades de Incentivo à Leitura em Bibliotecas Escolares", com o apoio financeiro da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC, tendo como proposta desenvolver atividades de incentivo à leitura em Bibliotecas Escolares das Escolas Municipais de Florianópolis, concentrando as atividades nos alunos de 1ª a 4ª séries do ensino de 1º grau. O projeto foi executado na Escola Básica Beatriz de Souza Brito - Bairro Pantanal. Em 1996 na Biblioteca da Escola Desdobrada Jacinto Cardoso - Bairro Serrinha. E em 1997, no Colégio Estadual Simão José Hess, localizado no bairro Trindade, todos no município de Florianópolis.
As atividades propostas, foram executadas com a colaboração de alunos-bolsistas do curso de Biblioteconomia da UFSC e anualmente as atividades foram descritas em relatórios elaborados pelos bolsistas e pelas coordenadoras do projeto (Andrade, 1997 e Blattmann, 1996).

2 Objetivos

O objetivo geral consiste em desenvolver atividades de incentivo à leitura em bibliotecas escolares das escolas do ensino de 1º grau de Florianópolis e como objetivos específicos destacam-se:
· Obter informações sobre as atividades desenvolvidas na promoção da leitura nas escolas pelas bibliotecas escolares e professores.
· Realizar a hora do conto nas turmas de 1ª a 4ª séries do primeiro grau.
· Desenvolver atividades pedagógicas junto com professores baseadas em histórias infantis na hora do conto.
· Demonstrar aos professores e alunos as possibilidades dos acervos organizados em bibliotecas no processo de ensino-aprendizagem.
· Demonstrar aos professores e alunos as possibilidades dos serviços de uma biblioteca escolar no estímulo ao desenvolvimento do hábito de leitura e da pesquisa.
· Proporcionar aos participantes do projeto (alunos, professores e bibliotecários da escola, alunos e professores do Curso de Biblioteconomia da UFSC) a oportunidade de desenvolver experiências referentes a promoção da leitura através de atividades pedagógicas, integrando teoria e prática.
· Diversificar os meios de incentivo à leitura, utilizando jogos, sucatas e dramatização.
· Conscientizar alunos e professores do seu papel na formação da biblioteca escolar.

3 Revisão de Literatura

O desenvolvimento das novas tecnologias, nas últimas décadas, vem afetando todos os setores da atividade humana, proporcionando maior agilidade de comunicação, reduzindo esforços nas rotinas diárias e ampliando as possibilidades de acesso à informação em todo mundo.
Para que a escola tenha o desenvolvimento desejado é necessário a utilização de recursos que facilitem a integração e dinamização do processo ensino/aprendizagem e entre os recursos existentes, destaca-se a biblioteca escolar, instrumento indispensável como apoio didático pedagógico e cultural, e também elemento de ligação entre professor e aluno na elaboração das leituras e pesquisas.
Ribeiro (1994, p. 61) afirma que "a biblioteca possibilita acesso à literatura e as informações para dar respostas e suscitar perguntas aos educandos, configurando uma instituição cuja tarefa centra-se na formação não só do educando como também de apoio informacional ao pessoal docente. Para atender essas premissas a biblioteca precisa ser entendida como um ‘espaço democrático’ onde interajam alunos, professores e informação. Esse espaço democrático pode estar circunscrito a duas funções: a função educativa e a formação cultural do indivíduo"
Castrillon (apud Mayrink, 1991, p. 304) apresenta uma conceituação abrangente de biblioteca escolar "é uma instituição do sistema social que organiza materiais bibliográficos, audiovisuais e outros meios e os coloca à disposição de uma comunidade educacional. Constitui parte integral do sistema educativo e participa de seus objetivos, metas e fins. A biblioteca escolar é um instrumento de desenvolvimento do currículo e permite o fomento da leitura e a formação de uma atividade científica; constitui um elemento que forma o indivíduo para a aprendizagem permanente, estimula a criatividade, a comunicação, facilita a recreação, apoia os docentes em sua capacitação e lhes oferece a informação necessária para a tomada de decisões em aula. Trabalha também com os pais de família e com outros agentes da comunidade".
A biblioteca é um centro ativo da aprendizagem. Deve ser vista como um núcleo ligado ao esforço pedagógico dos professores e não como um apêndice das escolas. A biblioteca escolar deve trabalhar com os professores e alunos e não apenas para eles. Mas na grande maioria das vezes, segundo Sanches Neto (1998) a biblioteca é encarada como um anexo da escola, quando na verdade, ela deveria ser a sua alma.
Segundo Freitas et al (1986, p. 35) "a falta de hábito de alguns professores em utilizar livros como recurso de ensino-aprendizagem demonstrou que a metodologia por eles utilizada, sem a orientação do grupo, poderá provocar nos seus alunos uma certa rejeição pela leitura com lazer".
"O hábito da leitura constitui-se em preocupação dos professores. No entanto, eles encontram dificuldades para implementação, porque não dispõem de recursos bibliográficos. A própria formação de magistério é feita na maioria das vezes desprovida da prestação de serviços bibliotecários adequados, característica das escolas brasileiras". (Freitas et al., 1986, p. 37)
Para Calixto (1994, p. 59 ) o processo de ensino e aprendizagem envolve hoje um conjunto de componentes e relações de que os pedagogos tem vindo a dar-se conta nas últimas décadas. Elas poderiam sintetizar nos seguintes pontos:
"- a escola já não é hoje o principal centro de aprendizagem das crianças e jovens. Os contatos na comunidade em que estão inseridos, a comunicação social, os amigos e a família, são hoje elementos mais importantes que a escola na formação do indivíduo, no desenvolvimento das suas capacidades e atitudes;
- o desenvolvimento da comunicação audiovisual e das novas tecnologias da informação contribuíram decisivamente para a obsolescência de uma pedagogia centrada no professor, que utiliza exclusiva ou principalmente manuais escolares como fonte de conhecimento, ou mesmo que só usa estes fins a palavra impressa. O espaço e o tempo pedagógico são também profundamente alterados; a sala de aula passa a ser apenas um entre muitos locais, na escola e fora dela, onde as experiências de aprendizagem têm lugar, o tempo letivo é igualmente diluído por um sem número de oportunidades em que o aluno, mais ou menos acompanhado, vive situações estimulantes e enriquecedoras;
- há muito tempo já que a preocupação principal de todas as ciências parece ser destruir postulados previamente tidos como certezas. A relativização do conhecimento científico introduz a incerteza no campo da educação e sublinha o valor da pesquisa individual e do desenvolvimento das capacidades de manuseamento da informação. Aprender é cada vez menos memorizar conhecimentos e cada vez mais preparar-se para saber encontrar, avaliar e utilizar. A capacidade de atualização passa a ser uma ferramenta essencial ao indivíduo se quer sobreviver numa sociedade de verdades relativas e efêmeras."
A biblioteca é uma das forças educativas mais poderosas de que dispõem estudantes, professores e pesquisadores. O aluno deve investigar, e a biblioteca é o centro de investigação tanto como o é um laboratório. O desejo de descobrir o que há nos livros, geralmente, existe nas crianças. A escola deve desenvolvê-lo, utilizando os espaços da biblioteca. (Silveira, 1996)
Segundo Viana & Almeida (1993) o uso adequado do livro e da biblioteca são imprescindíveis para a realização de uma pesquisa satisfatória, cuja prática, incentivada, contribui para que o estudante busque, também, respostas para indagações pessoais, amplie seus conhecimentos, forme sua própria opinião, garantindo seu espaço na sociedade.
Calixto (1996) menciona que "no limite, mas sem exagero, o que se poderá dizer é que sem biblioteca escolar não há escola moderna nem Reforma do Sistema educativo." Complementando a citação pode-se dizer que é necessário a presença do bibliotecário escolar capaz de atuar como agente mediador, um profissional consciente de sua função de educador, com experiência didática e criativa, que saiba manter um bom relacionamento com o corpo docente e que esteja preparado para oferecer programas de treinamento em pesquisa bibliográfica e incentivo a leitura, através da hora do conto para crianças do ensino fundamental.
A hora do conto é uma das atividades realizadas com a finalidade de despertar nas crianças o interesse maior para explorar o mundo mágico da leitura.
A literatura infantil, é fundamental para a formação da criança. Ler e contar histórias é uma forma de desenvolver o gosto pela fantasia, incentivando aspectos que dizem respeito ao seu potencial criativo.
O gosto literário da criança pode ser estimulado introduzindo o livro, desde cedo, nas suas brincadeiras. Quando a criança ainda não lê, é bom que alguém lhe conte histórias. Poderá ser o primeiro passo para que mais tarde a criança tenha o gosto pela leitura. (Silveira 1996)
Silveira (1996, p. 11) diz que "a seleção de histórias para serem oferecidas na Hora do Conto segue alguns critérios que são básicos. A estrutura da narrativa é bom que seja linear. Desaconselham-se as efabulações, comuns na ficção moderna. O conto foi feito para interessar de modo progressivo. A ação deve ser ininterrupta e crescente para desenvolver com presteza e terminar com um final efetivo".
Os contos de fada dirigem a criança para a descoberta de sua própria identidade e também sugerem as experiências que são necessárias para desenvolver ainda mais o seu caráter. "Eles alimentam a imaginação e estimulam as fantasias, pois nem todos os nossos desejos podem ser satisfeitos através da realidade. Daí a importância da fantasia como recurso adaptativo. Na seleção de histórias para serem oferecidas na hora do conto, é importante incluir contos de fadas". (Silveira, 1996, p. 12)
A leitura não só desperta na criança o gosto pelos bons livros e pelo hábito de ler como, também, contribui para despertar a valorização exata das coisas, desenvolver suas potencialidades, estimular sua curiosidade, inquietar-se por tudo que é novo, ampliar seus horizontes e progredir.
A biblioteca infantil ou escolar deveria ter como uma atividade de rotina ler histórias para crianças. Conforme Silveira (1996) é importante existir a cumplicidade entre a criança e o contador de histórias, do ponto de vista afetivo, porque a ilustração e o texto ajudam o acesso ao mundo dos adultos. A técnica da narrativa é defendida por alguns autores. Para que esta tarefa tenha êxito é necessário um preparo prévio da pessoa que vai ministrá-la. O contato da criança com o livro necessita ser compartilhado com alguém que o aprecie.
Ao encarregado desta tarefa sugere-se levar em conta alguns princípios elementares requeridos, como: extensão da narrativa (de acordo com a idade das crianças), suspense; inflexão da voz; linguagem a ser usada; gestos; atenção dos ouvintes, escolha do tema; lugar da reunião e demais recursos para conseguir o clima adequado. (Silveira, 1996)
Silveira (1996) afirma que "ajudando a criança a compreender seus próprios problemas, estimulando a imaginação, promovendo o desenvolvimento lingüístico, suscitando o gosto pelas boas leituras e recreando, o bibliotecário escolar centra seu trabalho num aspecto essencialmente educativo, cumprindo uma função de importância relevante, a busca do leitor, pois é a biblioteca que muitas vezes deve ir ao encontro dele".
Em contrapartida a esta colocação Sanches Neto (1998, p. 2) acredita que "o papel da escola é criar estruturas, através de uma biblioteca muito bem equipada, para que o eventual leitor se forme numa relação livre com os livros, fazendo por conta própria as escolhas que lhe forem mais adequadas. Uma destas escolhas é justamente não ler. Não devemos querer transformar todos os leitores profissionais. Isto é uma utopia risível. O fundamental é facultar àquele que é um leitor em potencial as condições para que desenvolva o que traz consigo".
Acreditando na importância da leitura, o estímulo através da concretização do hábito de leitura na formação das crianças espera-se contribuir com atividades desenvolvidas nas Bibliotecas Escolares.
Como bem retratou Silva (1995) a miséria da Biblioteca Escolar é lamentável, o que ocorre especialmente nas escolas publicas brasileiras. Sabe-se que cada contribuição por menor que seja, representa esforço para uma cidadania responsável.

4 Relato das Atividades

Como procedimento de trabalho, iniciava-se as atividades nas escolas, realizando um estudo das condições da biblioteca e da escola, constatando-se que:
· os usuários são alunos, professores e funcionários;
· o acervo existente nas bibliotecas, na sua maioria são provenientes de doações, pois as escolas não alocam recursos financeiros para as bibliotecas;
· professores resistentes a utilização do acervo e dos serviços da biblioteca como recurso de ensino-aprendizagem;
· a existência de preconceito em relação ao profissional bibliotecário; e,
· alunos e professores tem uma visão da biblioteca como um local de castigo.
As atividades desenvolvidas no decorrer da realização do projeto foram as seguintes: reuniões sobre a estrutura da escola/biblioteca; revisão da literatura infanto-juvenil e sobre biblioteca escolar; campanha de doação de livros para a biblioteca; trabalho de conscientização da importância do hábito de leitura e da biblioteca; visita a feira do livro no Serviço Social do Comércio - SESC; confecção de papel reciclado; atividades de incentivo a leitura: hora do conto, dramatização, dobraduras, maquetes, desenhos ilustrativos ao tema da história, confecção de livro infantil e orientação bibliográfica.

5 Resultados

Durante o desenvolvimento das atividades nas bibliotecas escolares, observou-se uma mudança do tratamento dos professores sobre a biblioteca escolar. A biblioteca escolar passou a ser vista como um local de aprender e que existe para se obter informação e conhecimento.
Foi possível verificar a mudança de preconceitos existentes referente aos serviços prestados pelo profissional bibliotecário, onde se destaca o envolvimento deste profissional com o processo pedagógico existente na escola, onde todos podem colaborar.
Cabe salientar o dizer da bibliotecária Angela Leite que "uma das formas de conquistar os professores, tanto para credibilidade da atuação do profissional da biblioteconomia, como para que o professor seja um freqüentador e colaborador na biblioteca escolar, é sugerir uma série de idéias ao professor de como utilizar a literatura infanto-juvenil".
Houve, portanto, uma conscientização da importância da leitura, principalmente através da hora do conto, pois esta atividade estimula a criatividade e torna o aluno mais crítico.

6 Considerações Finais

É necessário realizar atividades integralizadoras com os professores das escolas, pois estes são:
· o maior elo motivador da leitura para crianças, após as influências familiares, na escola. Portanto, estimulando, criando e incentivando o hábito de leitura e consequentemente o uso de bibliotecas escolares pelos alunos de 1º e 2º graus.
· condições de exemplo no uso de bibliotecas, favorecem o estímulo aos alunos para utilizarem também a biblioteca;
· o elo entre biblioteca, livros e alunos, repercutindo também numa seleção de materiais bibliográficos mais adequados para a Biblioteca Escolar;
· colaboradores em potencial, juntamente com os bibliotecários das Bibliotecas Escolares;
Pode-se mostrar a todos os integrantes das escolas, a importância da leitura na formação de um cidadão. Assim sendo, a biblioteca passou a ser um elo de ligação entre alunos e professores, tornando-se uma importante ferramenta de ensino-aprendizagem.
O hábito da leitura deve ser estimulado nos primeiros anos de vida escolar. Porém é impossível negar que a maioria das escolas lamentavelmente ainda não possuem infra-estrutura desejável para a conscientização do hábito da leitura.

7 Fontes Bibliográficas

ANDRADE, Araci Isaltina de. Atividades de incentivo à leitura em bibliotecas escolares: biblioteca do Colégio Estadual Simão Hess. Florianópolis, 1997. (Relatório do projeto de extensão - Departamento de Biblioteconomia e Documentação da UFSC)
BLATTMANN, Ursula. Atividades de incentivo à leitura em bibliotecas escolares: biblioteca da Escola Desdobrada Jacinto Cardoso. Florianópolis, 1996. (Relatório do projeto de extensão - Departamento de Biblioteconomia e Documentação da UFSC)
CALIXTO, José Antônio. Biblioteca pública versus biblioteca escolar: uma proposta de mudança. Cadernos BAD, Lisboa, n. 3, p.57-67, 1994.
FREITAS, Maria Terezinha N. et al. Educação pela leitura: uma experiência. Perspectiva, Florianópolis, v.3, n. 7, p. 26-40, jun./dez. 1986.
MAYRINK, Paulo Tarcísio. Diretrizes para a formação de coleções de bibliotecas escolares. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE BIBLIOTECONOMIA E DOCUMENTAÇÃO, 16., 1991, Salvador. Anais... Salvador: Associação Profissional dos Bibliotecários do estado da Bahia, 1991. 2 v., v. 1, p. 304-314.
RIBEIRO, Maria Solange Pereira. Desenvolvimento de coleção na biblioteca escolar: uma contribuição a formação crítica sócio-cultural do educando. Transinformação, Campinas, v. 6, n.1/3, jan./dez. 1994
SANCHES NETO, Miguel. Desordenar uma biblioteca: comércio & industria da leitura na escola. Revista Literária Blau, Porto Alegre, v. 4, n. 20, p. 20-24, mar. 1998.
SILVA, Waldeck Carneiro da. Miséria da biblioteca escolar. São Paulo: Cortez, 1995.
SILVEIRA, Itália Maria Falceta da. Ensinar a pensar: uma atividade da biblioteca escolar. R
Bibliotecon. & Comun., Porto Alegre, v. 7, p. 9-30, jan./dez. 1996.
VIANA, Maria Cecília Monteiro, ALMEIDA, Maria Olívia de. Pesquisa escolar: uso do livro e da biblioteca. São Paulo : [ s. n.], 1993.

Este documento foi disponibilizado na WWW em 20/10/98 sob endereço

http://www.ced.ufsc.br/~ursula/papers/leitura.html

Copyright © 1998 Araci Isaltina Andrade e Ursula Blattmann

Divulgado: II Jornada Norte/norteste de Biblioteconomia e Documentação e I Seminário Norte/norteste de Bibliotecas Escolares, Recife 13-17 de setembro de 1998 ( URL: http://seict.facepe.pe.gov.br/jornada/leitura.htm)e no Congresso de Naturologia, Florianópolis, novembro de 1998.

ANDRADE, Araci Isaltina de, BLATTMANN, Ursula. Atividades de incentivo à leitura em bibliotecas escolares: relato de um projeto. Apresentado na II Jornada Norte/norteste de Biblioteconomia e Documentação e I Seminário Norte/norteste de Bibliotecas Escolares, Recife 13-17 de setembro de 1998. 14 p. Disponível WWW, URL: http://www.ced.ufsc.br/~ursula/papers/leitura.html


Uma Concepção Interacionista

A Dimensão Social e Receptiva do Processo de Leitura: Uma Concepção Interacionista


Dioni Maria dos Santos Paz

Este artigo objetiva enfocar a leitura como algo dialético e dinâmico, capaz de descrever como funciona a interatividade entre o professor, o aluno e o meio. A fundamentação teórica está firmada em Luria (1990), Vygotsky (1994) e Richter (2000), que argumentam ser a interação uma forma de tornar o conhecimento socialmente construído. Da mesma forma, procurar-se-á mostrar como o processo do método recepcional de leitura, defendido por Bordini e Aguiar (1988), poderá ser praticado em sala de aula, transformando o ato de ler em um produto de investigação e interação com o meio social.

1. Considerações Iniciais

Todos sabem que uma das preocupações dos professores de línguas e literaturas, além de “o que ler”, está em “como ler“. O que é preciso fazer é confrontar essa discussão com as preocupações de ordem prática no ensino da leitura. Para isso, é necessário um exame de uma série de procedimentos comumente empregados por professores e produtores de materiais didáticos. Além do mais, deve haver maneiras pelas quais os materiais e procedimentos poderiam ser modificados ou ampliados para desenvolverem as capacidades comunicativas, Conseqüentemente, é importante reconhecer que o ensino da leitura é uma atividade tanto teórica quanto prática, que materiais de ensino e procedimentos de sala de aula eficazes dependem de princípios derivados de uma compreensão do que é leitura e quais as implicações relacionadas à natureza e à competência do usuário de textos.

2. Leitura e Interatividade

A teoria interacionista defende que a aquisição da linguagem provém da interação do programa mental do aprendiz com a linguagem realizada pelo aprendiz e um interlocutor. Além disso, argumenta que a aprendizagem de uma língua encontra suas raízes em um sistema de reciprocidade comportamental, isto é, o aprendiz precisa comportar-se socialmente, dando sentido às suas ações. Sabemos que é difícil ser absolutamente preciso sobre os fatores que envolvem a leitura, mas defendemos que uma proposta interativa poderá dar orientação para se alcançar determinados fins como resolver problemas, lembrar de informações e aplicar conhecimentos.

“O interacionismo põe sua ênfase na necessidade de os alunos manterem interação conversacional para, com isso, terem acesso a “input” significativo e compreensivo. Essas interações levam à negociação de sentido: expressar e esclarecer intenções, pensamentos, opiniões, etc.” (Richter,2000:78)

Com essa colocação fica clara a ênfase no trabalho coletivo. A negociação entre os sujeitos acontece de forma autêntica, articulando sentimentos e reflexões. Nesse intercâmbio o professor interage com o aluno utilizando recursos como esclarecimento, confirmação, questionamento e contestação. Concordando com Richter, temos o seguinte depoimento:

“Quaisquer mal-entendidos que ocorram podem ser esclarecidos no processo da interação, e os participantes se apóiam no “retorno” oferecido pelas reações dos outros interlocutores”. (Widdowson, 1991:93)

Nota-se que essa prática interacionista é de grande importância no processo da leitura que se diz receptiva, uma vez que pode clarificar e modificar o sentido de um texto dependendo de como ele é recebido. Trocar experiências de mundo é uma maneira de manobra tática e deve ser analisada como um modo explícito de interação.

Para Freire (1983), é a partir do momento em que o homem reflete criticamente sobre sua realidade e confronta-se com ela, que ele constrói a si mesmo e chega a ser sujeito. Na medida em que o homem, integrado em seu contexto, reflete sobre esse contexto e se compromete, ele passa a ser dono do seu universo. Então, a fim de que o homem possa participar ativamente do seu contexto sócio-histórico e da transformação da realidade, é necessário que ele tome consciência dessa realidade e consiga refletir criticamente sobre ele e o mundo.

São autores como os vistos acima que, ao pensarem na linguagem, no homem e na sociedade de forma totalizante e concreta, possibilitam um redimensionamento nas estruturas metodológicas do ato de ler. Aqui se encontra o método recepcional de leitura.

3. Como Interagir com o Método Recepcional da Leitura?

“O caráter iluminista dessa teoria, que no fundo pretende investir a leitura de uma forma revolucionária, capaz de afetar a história, insiste na qualificação dos leitores pela interação ativa com os textos e a sociedade.” (Bordini e Aguiar, 1988:85).

Oferecendo informações atualizadas, esta proposta de aplicação do método recepcional mesclada com a visão interacionista da linguagem leva sob mira o contexto do dia-a-dia das dificuldades dos leitores em assimilar textos chamados difíceis e fazer uma boa leitura. Ao mesmo tempo, o método da recepção procura desmistificar o texto literário, retirando-o do distanciamento em que costumam colocá-lo.

De acordo com Bordini e Aguiar, primeiramente deve-se escolher um tema a ser discutido. Para exemplificação, escolheu-se “a escola” como tema. Partiríamos solicitando aos alunos para que assistissem, em casa, ao programa Zorra Total, antiga Escolinha do professor Raimundo na Tv Globo, ou optaríamos por gravar dois ou três programas e apresentá-los em sala de aula. Com esse primeiro texto, os alunos devem fazer anotações sobre o comportamento dos principais personagens, sobre as perguntas e respostas, atitudes individuais e grupais. De posse da primeira leitura, um dos pontos que pode ser explorado é a desvalorização da educação. Os leitores devem perceber que a televisão aborda o assunto de forma humorística mas crítica, salientando o baixo nível cultural e os diferentes tipos de alunos. Devem ser analisados os personagens mais expressivos, por exemplo, o Seu Boneco que vai à aula apenas por causa da merenda, e que esta é a realidade de muitas crianças que precisam se alimentar. Outro personagem poderia ser o Seu Rolando Nero,que nunca entende a pergunta do professor e responde outra coisa qualquer, ficando evidente que é um aluno despreparado. Podem ser lidas as figuras femininas com suas qualidades de beleza, mas burrinhas, mostrando o lado machista do quadro. Enfim, o objetivo maior é tornar a leitura agradável e bem acolhida. Essa é a primeira etapa, que atenderia ao “horizonte de expectativas“ dos alunos, por isso não deve haver estranhamentos.

Passemos, então, para a segunda leitura. Sugere-se “Sociedade dos poetas mortos” . Devemos atentar para o fato de que os alunos devem estar no ensino médio. Isso quer dizer que dominam um tipo de conhecimento prévio em história e literatura. Essa etapa exige o conhecimento da época do Romantismo, remetendo os alunos aos poetas do “mal do século”. Os alunos devem inferir que nesse período havia uma tendência para a tristeza, a angústia e o tédio da vida. Uma das possíveis leituras poderá ser sobre a importância da atitude do professor em relação aos alunos, qual a influência do exemplo , do caráter e da amizade de um professor para os alunos. Certamente os comentários serão variados, dentre eles de que o aprendiz terá mais interesse por aquilo que lhe diz alguma coisa, que lhe traz proveito pessoal e que o engrandece como ser humano. Outro ponto que poderá ser explorado é a necessidade que o jovem tem de liberdade, de auto-afirmação, como também o despreparo de muitos pais e professores a respeito dos anseios de seus filhos ou alunos.

Nesse momento, a turma já deve estar em perfeita sintonia com a prática interativa, uma vez que trocam idéias e argumentos, e, segundo Richter (2000), a qualidade e a quantidade de “input” endereçado ao aluno permite uma freqüência de interações entre professor-aluno e aluno-aluno. Essa etapa exige um pouco mais de conhecimento, mas também faz parte do horizonte de expectativas do aluno, porque está dentro do seu conhecimento de mundo.

Dando seqüência, e para aproximarmos os alunos da proposta do método, deve-se escolher um texto literário. Estamos chegando na etapa da “ruptura do horizonte de expectativas” dos alunos. Optamos por um conto: “Conto de Escola “de Machado de Assis da estética Realista. Agora a turma irá encontrar um linguagem mais requintada que foge, muitas vezes, do seu conhecimento. Caberá ao professor exercitar o bom senso e tornar a linguagem mais adequada aos alunos. Surgirão também novidades quanto aos assuntos tratados, como exemplo, a corrupção e a delação no meio estudantil da época. Uma leitura que deverá aparecer é a tentativa de compra de trabalhos para superar as deficiências, o medo de não saber, o castigo e a humilhação . Nessa etapa, é provável que sejam lembradas atitudes em sala de aula como a honestidade e o respeito entre professor e alunos. Nesse momento, seria interessante o professor interagir, fazendo observações e comparações com a corrupção no Congresso Nacional e com as CPIs que aconteceram ou deveriam acontecer no cenário nacional.

Nessa fase, a abordagem interacionista está perfeita, pois

“O professor não está simplemente preocupado em desinibir o aluno, encorajá-lo a falar e controlar o que ele diz e entende...ao mesmo tempo em que mantém uma boa dose de empatia no diálogo, procura torná-lo sensível ao contexto e o mais próximo possívelda autenticidade, isto é, articulando sentimentos, reflexões e ação a tarefas concretas” (Richter,2000:79)

Com esse tipo de atividade, concomitante será trabalhada a interação social e o desenvolvimento cognitivo, também defendidos por Vygotsky.

Finalmente, deverá ser solicitada a leitura de um romance, que é a proposta final do nosso trabalho. Chegamos à etapa do “questionamento do horizonte de expectativas dos alunos” . O professor deverá oferecer uma leitura que traga muitos estranhamentos, mas deve fazer com que os alunos a leiam como se fosse algo de fácil leitura e que lhe proporciona prazer e não obrigação. Sugerimos o livro “O Ateneu” de Raul Pompéia. Analisando-se o contexto histórico e político da época, deve-se verificar as condições que deram sustentação ao romance. Deve-se observar a linguagem, o grau de informatividade e o meio social, entre outros aspectos que serão mencionados pelos alunos ou pelo professor. Nessa fase, certamente haverá um “questionamento do horizonte de expectativas dos alunos”, pois o grau de informações é grande. Pelas datas e citações do livro, virão à tona informações como a época da Princesa Isabel, da Lei Áurea e da passagem da monarquia para a república, por exemplo. As leituras também deverão questionar sobre a intransigência de certos professores e diretores de escola, na figura do professor e diretor Aristarco, que também simboliza o absolutismo da época. Possivelmente sejam identificadas características de tipos de alunos: quietos, barulhentos, briguentos, entre outros.

Nesse momento, é chegada a hora de os alunos compararem os textos, analisarem suas semelhanças e diferenças, refletirem e questionarem sobre o tema apresentado. É a etapa final: “a ampliação do horizonte de expectativas” . Aí está o papel fundamental do método da recepção e da abordagem interacionista: fazer o aluno gostar e participar ativamente da aula, focalizando-o como sujeito e não como objeto do ato de aprender. Dessa forma, além de interagir com os alunos e contextualizar as aulas, fica evidente que o professor precisa observar todos os fenômenos que acontecem na sala de aula e avaliar todas as possibilidades de manifestação dos alunos.

Concebida e concebendo-se a leitura como prática interativa e social, pretende-se utilizar esse instrumento para apoiar a reflexão coletiva de professores e alunos. Por outro lado, se a vida política, social e cultural se manifesta nos educadores, a cada momento e em cada um de nossos atos, é preciso tornar concreta uma postura pedagógica centrada no aluno e despertá-lo para ser sujeito da história, constituído de linguagem, dono do seu saber e capaz de interagir com o mundo e proporcionar mudanças.

4.Considerações Finais

Com o estudo em questão fica aprovada uma estreita relação entre a proposta interacionista defendida por Luria , Vygotsky e Richter, com o processo do método recepcional de leitura discutido por Bordini e Aguiar. Parece não haver contradições, uma vez que todos esses autores procuram amenizar situações de distanciamento entre o professor o aluno e a sala de aula. Fica claro que essa forma de trabalho almeja promover e sustentar um ambiente de ensino-aprendizagem baseado na troca de experiências. Nota-se que isso acontece através de transação entre os textos e os leitores, pois todos os conhecimentos são colocados em jogo. Portanto, toda leitura deve ser vista dentro de um contexto pessoal, social, histórico, político e cultural. Assim, o leitor traz as suas experiências mas também as circunstâncias socialmente moldadas, e os propósitos da leitura dão a contextualização para a compreensão final. Na realidade, há um redimensionamento do modelo recepcional de leitura que vê no texto o entrelaçamento de idéias que uma concepção plena de leitura exige. Além disso, no ensino interacionista, fica evidente que o leitor dá um salto do sensorial para o racional. Aquilo que o torna dinâmico e vivo, também o torna um instrumento não só de reflexão, mas de refração da realidade.

Sem dúvida, é com uma concepção de homem, sociedade e linguagem concretos que o pensamento de Richter, Vygotsky, Luria, Freire, Bordini e Aguiar se encontram. É a partir do momento em que o homem reflete criticamente sobre sua realidade e confronta-se com ela, que ele constrói a si mesmo e chega a ser dono de sua própria aprendizagem.

Bibliografia:

BORDINI, Maria da Glória, AGUIAR, Vera Teixeira de. Literatura: a formação do leitor: alternativas metodológicas. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1988.
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. 4 ed. São Paulo: Cortez,1983.
LURIA, Alexander R. Desenvolvimento cognitivo: seus fundamentos culturais e sociais. São Paulo: Ícone, 1990.
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